13.11.09

heschel.

existe algo "mágico" em torno de certos livros, certos parágrafos, certas frases… mas mesmo em bons livros, grandes livros, é raro já o primeiro parágrafo ter um poder magnético irresistível. entre os que mais me marcaram até hoje está o do heschel chamado "o schabat". cito, na íntegra, os primeiros dois parágrafos (e com tanto respeito, que, pela primeira vez neste espaço, aparecem maiúsculos no início de cada frase).

A civilização técnica é a conquista do espaço pelo homem. É um triunfo freqüentemente alcançado pelo sacrifício de um ingrediente essencial da existência, isto é, o tempo. Na civilização técnica nós gastamos tempo para ganhar espaço. Intensificar nosso poder no mundo do espaço é o nosso maior objetivo. No entanto, ter mais não significa ser mais. O poder que alcançamos no mundo do espaço termina abruptamente na fronteira do tempo. Mas o tempo é o coração da existência.
Ganhar o controle no mundo do espaço é certamente uma de nossas tarefas. O perigo começa quando, para ganhar poder no reino do espaço, pagamos com a perda de todas as aspirações no reino do tempo. Há um reino no tempo em que a meta não é ter, mas ser; não possuir, mas dar; não controlar, mas partilhar; não submeter, mas estar de acordo. A vida vai mal quando o controle do espaço, a aquisição de coisas do espaço, torna-se nossa única preocupação.

daria pra passar o fds inteiro pensando nisso… e garanto que não seria um tempo perdido.

8.11.09

b.day

tem duas coisas que eu sempre tentei esconder e que sempre me perguntam (talvez justamente por isto, rs.):

a) meu nome completo

b) a data do meu aniversário

bem… não gosto de revelar meu nome completo por uma razão muito simples: tem um nome antes do "leonardo" e um antes do "gonçalves", ou seja: meu primeiro nome nem é leonardo! aí –claro!– nas comunidades destes sites de relacionamentos já se levanta a questão da falta de espiritualidade e do estrelismo que leva uma pessoa como eu a não querer usar o "nome verdadeiro" e adotar um "nome artístico", rs.! [fala a verdade! usar o segundo ao invés do primeiro nome não me parece algo tão "artístico" assim, rs…] sendo que a razão para isto é bem mais simples e bem mais óbvia: na ocasião do meu nascimento meu primeiro nome foi sugestão do então 2o tenor dos arautos do Rei (meu pai, na época, era o barítono), ou seja, deve ter sido o nome que meu pai queria. como meus pais se divorciaram quando eu tinha apenas 1 ano de idade e minha mãe resolveu me chamar pelo meu segundo nome "leonardo", ninguém, NUNCA, JAMAIS, me chamou pelo primeiro nome. não tenho nada contra o primeiro, no entanto! tenho até um grande amigo que foi meu padrinho de casamento que se chama por este nome. mas simplesmente pra mim, na minha cabeça, este nome não sou eu! na alemanha você não é obrigado a matricular o seu filho na escola com o nome completo e lá também não tem chamada. no 2o grau, no IASP, a chamada era por números. onde pegou, foi na unicamp, apenas… e somente porque lá me relacionei com tão pouca gente que simplesmente não valia a pena o esforço de corrigir todo mundo e ensinar-lhes que, na verdade, sou "leonardo" e não "…", rs.!

o lance da data do aniversário é simples, também… socialmente se cria uma expectativa de que este dia deva ser especial, sendo que o dia é tão normal quanto todos os outros, com as mesmas 24h… e sempre achei "parabéns" muito exdrúxulo, porque, afinal, não fiz nada demais! em formatura, casamento ou coisas do tipo um "parabéns" cai muito bem, mas aniversário? o que tem de especial em ter tido a capacidade de "não morrer" por mais um ano?! "parabéns" pra D-s que me manteve vivo! eu, não fiz nada!
e também não me empolgo em receber presentes, não… simplesmente não gosto desta atenção toda despendida a este dia e preferiria que simplesmente o deixassem passar em branco. acho que desde os meus 12 anos já sou assim, neste sentido… só que como, ainda por cima, hoje sou uma pessoa "pública" a atenção pra este dia é redobrada. por isto nunca divulguei a data (e parece que quanto mais a tento esconder, menos isto dá certo).

hoje, com wikipedia, não há mais segredos, rs… os curiosos podem conferir aqui.

6.11.09

muro.

semana que vem (exatamente no dia 09.11.2009) vai completar 20 anos da queda do muro de berlin. lembro como se tivesse sido ontem. um dos eventos que mais marcou minha infância.

meus amigos e eu, na época com 10 anos de idade –no parquinho, mesmo– discutíamos se esta união não estava sendo feita precipitadamente, se era o melhor caminho para a BRD (república federativa alemã), quais os objetivos do primeiro ministro helmut kohl, as consequências para a economia, enfim… consegue imaginar um bando de criança de 10 anos de idade discutindo política? éramos nós. a gente podia não estar compreendendo tudo o que se estivesse passando, mas tinha aquele sentimento, aquele ar de que a gente estava vivenciando algo importante, vivendo um momento histórico.

vocês só podem imaginar como é para alguém nesta idade conhecer pessoas que falam a mesma língua, pertencem, na verdade, a um só povo, mas com sotaques e hábitos tão diferentes! pessoas que não sabiam o que era mcdonald's, coca cola, talvez nunca tivessem chupado uma laranja ou sequer visto uma banana de perto… muitas pessoas comiam tanto abacaxi em suas primeiras viagens ao lado ocidental que ficavam com a boca cheia de haftas. e tudo isto não por razões de injustiça social (na época eu nem sabia o que era isto), mas por razões políticas; porque há uns 50 anos a alemanha havia perdido uma guerra.

meu melhor amigo da 4a até a entrar na 7a série havia nascido e se criado na alemanha oriental. sua família havia sido uma das milhares que fugiram da DDR antes da queda do muro, pela (então ainda) tcheco-eslováquia via viena (na áustria) para a alemanha ocidental. seria mais ou menos como tentar entrar nos estados unidos pelo méxico, sem documentos (com a significativa diferença que os irmãos da alemanha oriental eram MUITO bem recebidos com salário de desemprego, plano de saúde, moradia, etc.). embora a gente brigasse MUITO, era um grude só; onde um ia, o outro tinha de estar.

uma das coisas que mais me impressionou quando as fronteiras foram abertas, foi a atitude da alemanha ocidental de dar de presente a TODO visitante que viesse do "lado de lá" (
drüben) 200,00DM (equivalente a uns 100,00US$ na época) e de trocar o marco oriental para o ocidental (que deveria valer no mínimo dez vezes mais) 1 por 1. isso com dinheiro de imposto, dinheiro do governo. e a maioria estava de acordo com isto. mas embora o muro de berlin já tivesse caído, o muro dos preconceitos ainda continuava de pé, sendo fortificado e erigido cada vez mais alto toda vez em que o sotaque diferente ou algum hábito que nos parecia exdrúxulo era motivo de chacota; e infelizmente isto não era raro. a última vez em que fui a berlin, em 2003, pouco restava das diferenças de um lado para o outro. e o preconceito também havia diminuido significativamente. mas demorou mais de uma década, até mesmo porque os muros invisíveis são os que mais demoram a ser derrubados.

é curioso pensar que a 10.000km de onde eu morava nesta época, aqui no brasil, este mesmo evento marcou profundamente uma pessoa que eu só conheci muitos anos depois: heber schünemann. ele ficou tão impressionado que compôs a música "muro". e rapidamente esta música se tornou para ele a mais querida de todas as músicas que ele havia escrito até então, como se fosse sua "obra prima" deste período.

ele mostrou a música pra muita gente, alguns solistas e vários grupos chegaram a cantar esta canção, mas nunca ninguém a gravou. D-s a guardou até o momento em que alguém que vivera de perto o momento da história mundial que inspirara esta canção aparecesse para gravar seu primeiro cd solo,
poemas e canções.

D-s é D-s.

como entender os caminhos de alguém
que movimenta o universo inteiro
sabe os lugares que vou percorrer
move montanhas por mim em segredo?

felipe valente


(gravado por dida vagner no cd obra.)