18.9.10

vovó iolanda…

hoje minha avó faleceu. descansou. aproximadamente às 15:30h da tarde. completamente lúcida, enfim, expirou pela última vez.

o turbilhão de idéias, pensamentos e sentimentos que isto evocou em mim é difícil de descrever. me perdoem, caso este texto não tenha uma sequência de começo, meio e fim. me perdoem se ele for pouco inteligível. mas talvez este seja um texto mais terapêutico para mim do que qualquer outra coisa.

cheguei no rio de janeiro às 12:40h (o vôo atrasou) e como a organização do evento "celebrando a esperança" no maracanãzinho havia cancelado minha participação no culto de sexta-feira à noite restringindo-a apenas ao sábado de manhã (não me perguntem por quê!), senti que esta era minha chance de aproveitar para ir a volta redonda visitar a minha avó, talvez pela última vez. ela tinha 91 anos e havia sofrido um infarto há um pouco mais de duas semanas, sobreviveu completamente lúcida, mas com o coração funcionando apenas com 50% de sua capacidade. como consequência disto ela teve pneumonia e quando meu pai falou comigo mais cedo esta semana, eu senti a necessidade de vê-la mais uma vez e que hoje era a oportunidade perfeita para isto.

saindo do aeroporto santos dumont o carro que meu pai havia pego emprestado começou a esquentar muito e de 10 em 10 minutos a gente tinha que parar para completar água e esperar que o motor esfriasse um pouco. perto do aeroporto do galeão eu finalmente consegui, depois de inúmeras paradas, convencer meu pai de deixar o carro emprestado no aeroporto e alugar um carro para seguirmos viagem. somente às 15:30h conseguimos sair do GIG rumo a volta redonda.

chegamos exatamente duas horas depois… íamos conversando no caminho empolgados a respeito de muitos assuntos (meu pai, a simone e eu), religião –como sempre– sendo o tópico mais popular de nossas conversas.  foi somente a poucas quadras da casa de minha avó que o meu pai recebeu a ligação dando a notícia do falecimento da minha avó. o silêncio tomou conta do carro que momentos antes havia estado ainda bem barulhento.

nunca antes tinha visto meu pai chorar.

se tivéssemos conseguido ir direto do SDU, talvez eu ainda a tivesse encontrado com vida. mas quando meu pai lhe avisou na quarta que eu a visitaria na sexta-feira, ela acenou com a mão como quem diz que não mais estaria viva para me receber. D-s sabe o que faz.

minha avó teve 11 filhos. 8 vingaram (como a gente diz no nordeste), sobrevivendo à dura realidade da infância brasileira do interior de minhas gerais e rio de janeiro da década de 40 e 50. minha avó, sempre amorosa e carinhosa. de poucas palavras. com o coração cheio de poesia e sempre em seus lábios uma canção (até cantou no meu casamento, ano passado, com 90 anos de idade! sabia a letra inteira da música ainda de cor). com seu senso de humor simples e peculiar.

talvez venha daí eu sentir um aperto no coração toda vez em que escuto uma daquelas músicas tipicamente mineiras, serenas, cheias de saudade não sei do quê… talvez seja por isso que eu me sinta em casa na serra e não no litoral e, de modo geral, não me identifico com a "cultura" litorânea deste país (por mais lindo que este litoral seja), mas me sinta estranhamente acolhido e abraçado com os sentimentos indescritíveis e inclassificáveis dos acordes simples, mas elaborados de um violão, com sanfona e pau de chuva.

não é novidade que meus pais se divorciaram quando eu tinha apenas 1 ano de idade (quando o divórcio era legal apenas há 4 anos no brasil!!!). e sei que muitos de vocês que visitam e lêem este blog sabem na pele o que significa o divórcio dentro de uma família. é verdade que D-s aproveitou esta situação, que –evidentemente– não foi causada por Ele, para me trazer bênçãos indescritíveis (entre as quais eu destacaria o meu padrasto e sua família como a maior), mas tenho certeza absoluta que, quando algumas decisões erradas foram tomadas, ninguém poderia mensurar e imaginar a gama de consequências que certos atos poderiam trazer não apenas para as pessoas diretamente envolvidas, mas também para aquelas indiretamente envolvidas.

você que vem de uma família em que houve divórcio sabe que naturalmente ocorre um distanciamento entre as famílias. isto não é proposital e nem premeditado. não é vingança. é uma consequência natural. mas quando o divórcio acontece quando você tem apenas 1 ano de idade você sequer chega a criar intimidade. e é a coisa mais estranha… porque quando estou com os meus primos por parte de pai, há tanta coisa que reconheço deles em mim e de mim neles, mas pelas razões tristes e trágicas da vida, não há intimidade. carinho, sim. ternura até. mas falta aquilo de que só a convivência de anos, desde a infância, pode gerar.

nas raras vezes em que os visito sou acolhido com carinho. e eles demonstram sentir sinceramente pelo fato de eu nunca poder/conseguir ficar muito tempo. mas nunca, nem no olhar de nenhum deles, eu jamais senti um pingo de acusação pela minha ausência que já se estende muito além dos anos que vivi no exterior.

foi comovente, hoje, poder observar uma família unida pelo luto. e pela memória coletiva de uma pessoa tão querida como foi a vovó iolanda. não houve desespero. tristeza profunda, sim. saudade. mas sempre houve o ombro amigo. o abraço fraterno. o olhar, as palavras edificantes e "edificadoras".

que D-s (n)os conforte. e que nos sele a todos no livro da vida. para estabelecermos o Seu reino de Amor aqui e, desta forma, podermos participar do seu reino eterno onde não mais haverá morte, tristeza e rancor.

16 comentários:

Unknown disse...

Léo,
Meus sentimentos !!! A menos de um mês faleceu um de meus 7 tios por parte de mãe. Assim como você, não tivemos muito contato devido os caminhos que cada um decide para si. Mas infelizmente doeu e ainda dói, saber que não houve um simples adeus. Deus, com sua imensa sabedoria tem um propósito para TUDO neste mundo e acredito muito que HOJE Ele tem buscado seus filhos afim de não sofrerem nos últimos dias, dia este que Ele virá das nuvens do céu.
Irei orar para que Deus console os corações de seus familiares.Esta letra me consola muito, espero que possa fazer o mesmo com você:
"Um dia não iremos mais chorar viveremos todos unidos em Amor, confiando nas promessas do Senhor estaremos juntos pra SEMPRE".
Abç,
Débora

Sergiopaulof (Twitter) disse...

Leo, sinto muito pela sua vó. se D-s quis assim, creio eu que a missão que sua vó teve aqui na terra já foi cumprida. tenho certeza que agora ela esta descansando na espera do pai. Através desse blog conheci muito sobre sua vida (nem tudo) mas muitas coisas que você dividiu com cada um de seus admiradores. Através de muitos post, não sei porque, mais suas palavras nos faz sentir o que você realmente esta passando...se é alegria, tristeza, ansiedade ou qualquer tipo de sensação suas palavras tem o poder de passar isso com muita facilidade. e através desse post senti muitooo oq você esta passando, e oq passou quando soube da noticia. Leo saiba que MUITASS pessoas torcem por você, em qualquer situação, creio eu que todos estarão dispostos a ajudar/apoiar em tudo que você precisar. Enfim...somos todos uma só família. Somos irmãos em Cristo. Que D-s te abençoe, que continue iluminando os teus passos, e que faça dos teus sonhos/projetos torna-se realidade!! Um grande abraço!!

Anônimo disse...

Nossa, que triste isso...sinto muito... Essa sua vó é aquela que escreveu um livro, um romance sobre a sua história de vida?
Abraço! Que Deus o conforte.

Anônimo disse...

é a segunda vez que venho por aqui ... sinto q visitarei mais vezes. linda história . que D-s possa confortar em tudo aquilo q estiveres necessitando.

Alessandra Samadello disse...

Leo, bom dia meu querido! Certamente você deve estar muito cansado! Não poderia deixar de te mandar uma mensagem dizendo que meu coração e o de minha família estão com você nesse momento. Não quero deixar palavras vazias de alguém que não conheceu sua avozinha, mas abrir meu peito para dizer que choro pela sua tristeza. Um pedacinho do nosso coração pára quando alguém querido é tirado de nós. Gostaria que soubesse que meu pensamento e minha oração estarão com você e sua família hoje, nesse dia que jamais será esquecido! Muito conforto e esperança de reencontrá-la é o que eu desejo em silêncio! Bj, Alessandra Samadello

sarah disse...

Léo meu querido,
sinto muito por sua perda, todos nós sabemos que não é facil ... mais tudo que nos acontece é pela vontade de DEUS .... e creio ela está descansando no senhor jesus

" Ele virá resgatar quem o esperou ele virá prometeu e será fiel eu posso esperar meu senhor , eu posso confiar ele voltará...... ele voltará"



bjos
sarah silva dos santos

Rayre Mota disse...

Estamos orando por toda a família!
grande abraço!

Jessica disse...

Em momentos assim resta-nos apenas pedir a Deus conforto: a você e toda sua família!
Deus continue o abençoando Leo!
Grande abraço!

Tempo de Palavra disse...

Leo,
Eu não sei se essas palavras chegarão ao seu conhecimento. Eu nunca fui muito de mandar post para alguém público como você. Que palavras sinceras, que texto comovente, que profundidade no seu amor e na sua presente realidade. D'us é aquele que supre as nossa necessidades. Que lindo ver que sua avó se foi com o orgulho de ter netos, como você que fazem diferença no mundo.
Parabéns pelo seu cd. Já me emocionei com as linda melodias e com a voz que tem um "q" de unção.
Que o Eterno de abençoe

Unknown disse...

Léo,estaremos sempre aqui. Sempre com o mesmo gesto de carinho e ternura.Somos a SUA FAMÍLIA, aqui ou na china.Rs
Todos sentimos muito. Sua ausência causando silêncio em todo lugar. Mas tenho certeza que isso tambem servirá para nos unirmos e fortacelermos o nosso laço de familia porque eu tenho certeza que era o que ela mais queria e do que ela mais se orgulhava. De ter uma familia tão unida.
Abraços da prima Carolina

Marinho disse...

D-s é maravilhoso, coloca pessoas especiais em nossa vida, pessoas como vó Iolanda que aos seus lúcidos 90 anos pôde cantar no casamento do neto. Na manhã da ressurreição vc dará um grande abraço em sua vó. Eu creio nisso !

Unknown disse...

Olá,
Minha esposa é sobrinha da D. Iolanda, sua avó. Sentimos muito a perda dela. Tive a oportunidade de conhecê-la, como tb sua tia Leia.
Não foi possível irmos até Volta Redonda para o velório, mas alguns parentes daqui de Cataguases/MG foram nos representar. Só nos restou as lembranças e os "contos de família".
Abç,
Hermínio

Danilo disse...

Meu avô materno faleceu há mais d cinco anos... era meu cúmplice, meu companheiro, meu fiel escudeiro de papos teológicos... Vivia assoviando chorinho pela casa, amava Altamiro Carrilho! Gostava de viola caipira, era um baixo com um timbre daqueles da época de outro do rádio... Até hoje, quando ouço determinadas coisas, a lembrança dele é absolutamente inevitável. E gostosa, apesar da dorzinha que a acompanha. Nossas referências nos acompanham de uma maneira indescritível SEMPRE.
Abração!

lg disse...

oi carol…

com certeza…! e que seja feita esta vontade dela.

bjs…

Ronald Luis disse...

Belas palavras.

Que Deus possa estar te consolando neste momento.

Obrigado por compartilhar seu momento de dor e fortalecer nossa vida e nosso entendimento.

Que Deus te abençoe!

João B M Nascimento disse...

Leo, se o que está sentindo...
coincidentemente perdi minha vó no dia 17/09. Sem palavras... juro que chorei quando li esse texto seu. Ela tinha 89 anos. Fiquei muito triste pelo seu falecimento. Havia 60 dias que eu não a via. Detalhe: também nunca tinha visto meu pai chorar. Moro em Porto Seguro e minha família é de Vit da Conquista, Ba.
Me falaram que você virá em Porto Seguro ainda esse ano. Aguardo com muita expectativa.
Grande abraço e saiba que eu admiro MUITO o seu ministério.